sábado, 3 de novembro de 2007

Logo longe

Para ler ao som de “Little Motel” de Modest Mouse


Tentei fazer uma música feliz para você, mas não consegui. É difícil doar o que não tem. A porta se abriu brusca e intensa e eu acordei do sono leve com o coração palpitando. Ele confundiu os motivos da aceleração e pensou que era a ansiedade-tristeza de sempre. Não tem vocação para Sherlock Holmes para entender que havia algo de diferente por aqui. É o costume de ser descartável. Eu peguei. Não deixei passar, mas parti. A contragosto, lento, como se não dormisse há quatro noites seguidas. E você ficou. Belo e. Não sei muito de você. Mesmo assim. Gostei muito de você.


A saudade não é aquela por antecipação. Sinto-a de verdade. Quero falar com você de cinco em cinco minutos e você me manda uma mensagem às 5h02 da manhã. A ilusão só mudou de contexto. Continuo preso ao que não tenho. Efêmero. Mas não quero me ver livre dessa esperança-frustração. É a única garantia – falsa e frágil – de que tenho um pedaço de você comigo. Mesmo que o céu tenha caído e a parede ficado nua.

A ventania que entrou pela janela e derrubou os quadros não tem significado para mim. As lembranças continuam intactas. Embora eu não queira fazer da memória alicerce. As águas passam e apagam as marcas. Mesmo as do tenis. Fácil. Preciso de provas. De carne e de osso. De pernas expostas. De você-presente. That's what I'm waiting for, darling. Na sua falta, os pensamentos de Caio F. me consomem o tempo, a força, o ânimo, as paredes do estômago, as unhas e o sono.

Só desejo que não a esperança. Desta vez, vou aguardar. Por mais que o preço se revele injusto. Desta vez, eu que estranho sua distância. Que fico sem rumo depois de cruzarmos o olhar. Sou turista em minha cidade-natal. Eu que coloco você em uma caixinha-memória para que não vá embora. Que espero o convite e não hesito. Hoje, eu que ajo como um canceriano clichê. A menina Lorena de Lygia Fagundes Telles. Levei essa história toda muito a sério.

Tentei fazer a música feliz. Não que o triste não seja belo. Mas era assim que ela deveria ser. Não se trata de uma crise criativa. Já tenho a letra. Fiz antes da melodia, que carrega toda a culpa do fracasso. Só surge melancólica. Pensei em Alex Turner. Vou enviar os fragmentos e pedir para que ele compunha a música mais cool do ano. Daí, na próxima vez em que os macacos saírem do Ártico para Brasil, vamos ouvi-la, abraçadamente cafonas. E depois eu te levo em casa.
That's what we're waiting for, aren't we?